Paz
Se você me perguntar o que eu quero, eu falo: paz. Simples assim. Paz.
Mas não aquela paz que vem depois da tempestade ou aquela que só se encontra em lugares longe do barulho do mundo. Falo de uma paz mais profunda, que nasce dentro, no silêncio das coisas simples, no jeito como a vida acontece sem pedir licença.
Eu sei que existem praias lindas, com águas tão azuis que parecem pintadas à mão. Sei das montanhas sagradas, onde o vento parece sussurrar segredos antigos aos nossos ouvidos cansados. Existem restaurantes especiais, onde cada garfada é uma gostosura. E também sei do calor de um estádio de futebol, da energia contagiante do carnaval, das cenas de amor que parecem sair dos filmes para a nossa vida. Tudo isso existe, e eu celebro. Agradeço por cada detalhe desse mundo vasto e cheio de possibilidades.
Mas há dias em que o vento é forte demais, quando o silêncio parece pesado ou quando o mundo grita alto demais. Há momentos em que a vida parece me testar, me dobrar, me desafiar. E foi aprendendo a me curvar diante dessas provas, com humildade, que percebi que a paz não é ausência de desafios, mas a capacidade de atravessá-los sem perder o centro. Não é sobre ignorar a dor, mas sobre abraçá-la como parte do fluxo. Aceitar que há quedas, tropeços e dias cinzas, e que mesmo neles há aprendizado.
E sabe? Neste momento, não preciso de mais nada além do que já tenho aqui, agora. Descobri que meu maior tesão não está em buscar novas paisagens, mas em habitar profundamente o lugar onde estou ancorado. É como se cada instante fosse uma porta que se abre para algo maior, algo infinito. Não preciso correr, nem acumular momentos ou conquistas. O que me move agora é a presença plena, o aqui e o agora, sem pressa, sem ansiedade, portal da vida em milagres.
Quando olho ao redor, percebo que tudo o que preciso já está aqui. O vento que acaricia minha pele, o som das folhas dançando com o vento, o cheiro da terra molhada depois da chuva… Tudo isso é mágico, simplesmente porque é . E eu quero estar inteiro nisso, sentir cada célula do meu corpo vibrando com o que me rodeia. Quero me permitir ser atravessado pelas energias que fluem naturalmente, sem resistência, sem julgamento. Quero sentir o pulsar da vida em cada respiração, em cada batida do coração.
Não se trata de renunciar às belezas do mundo, mas sim de reconhecer que elas também estão aqui, neste exato momento, neste espaço onde me encontro. Não preciso ir muito longe para encontrar o extraordinário. Ele está na magia do que me acontece, no jeito como a luz do sol entra pela janela, no gosto doce da manga que escorre pelos dedos. Está no sorriso sincero de quem passa por mim na rua, no seguidor que me agradece por acolhê-lo com o coração aberto, no som do silêncio quando tudo ao redor parece parar.
Hoje, meu desejo é cuidar dessa troca de energia com o mundo. Sentir o que entra e o que sai de mim, como ondas suaves ou revoltas que vêm e vão. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo – pensamentos, sensações, emoções – que mal consigo imaginar estar em outro lugar que não seja este aqui, onde a vida me trouxe. Este corpo, este momento, esta respiração. É aqui que mora a paz que tanto busco. É aqui que encontro o infinito.
E sabe o que é mais bonito? Essa paz não precisa ser explicada. Ela simplesmente é. Porque, no fundo, o que mais poderíamos querer? A vida já nos dá tudo o que precisamos. Resta aprender a estar com ela, no ritmo dela, e a acolher seus desafios sem resistência. Aceitar, aprender, crescer, fluir no ser e estar, firmado na humildade, beleza, nas virtudes.
Então, eu fico aqui. No chão firme onde estou. No ar que respiro. Na luz que me aquece. Nos sons que me envolvem. No toque da vida que me atravessa. E, nesse lugar, encontro tudo o que sempre procurei: paz.
Simples, profunda, eterna.
E assim, de repente, estarei aí. Que é também aqui. Jardim dos caminhos que se encontram, ainda que, a seguir, se distanciem na gravidade que nos une pelo centro de cada umbigo. 🌿✨
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