Ele quer ela não
Diálogo: "Espelhos Fraturados"
(Cenário: Um apartamento vazio, caixas pela metade. Luzes frias projetam sombras longas. ELE, desalinhado, caminha em círculos. ELA, impecável, organiza livros em uma caixa. O silêncio pesa até ELE estourar.)
ELE:
(Com voz trêmula, fingindo calma.)
Vai levar todos os livros? Ou deixará algum… para mim? (Pausa. Seus olhos vasculham o cômodo.) Ou prefere que eu os queime? Assim não há rastros.
ELA:
(Sem olhar para ele, dobrando uma camisa.)
Não seja dramático. Sabe que não cabem no seu novo apartamento. (Pausa. Seu tom endurece.) Além disso, não é como se você fosse lê-los.
ELE:
(Rindo, mas sem humor.)
Ah, claro! Sou só o idiota que comprava seus sonhos de papel… (Aproxima-se, invasivo.) E agora? Vai lê-los na cama dele ? No sofá dele ?
ELA:
(Deter-se. Enfrenta-o, fria.)
Não existe "ele". Só eu. (Pausa. Baixa a voz.) E você, que não consegue respirar sem ver meu reflexo no espelho.
ELE:
(Agarra um vaso quebrado, aperta-o como se fosse um coração.)
Reflexo? Você me quebrou! (Solta os cacos, que se espalham.) Acha que não sei? As mensagens à meia-noite, as ligações que você corta quando entro… (Aproxima-se, ameaçador.) Ele te faz rir mais? Te faz sentir viva?
ELA:
(Olha-o pela primeira vez com pena.)
Não há mais ninguém. Só você… (Tira um envelope do bolso, joga-o.) Aqui está sua obsessão: recibos de meus cafés, minhas roupas em seu armário, minhas digitais em sua pele. (Sussurra.) Quando vai entender que não quero mais ser sua prisão?
ELE:
(Recupera o envelope, mãos trêmulas.)
Prisão? Eu era seu jardim! Plantei flores em cada rachadura sua! (Aponta para o peito.) E você? Arrancou as raízes e foi embora!
ELA:
(Grita, pela primeira vez.)
Você secou o jardim! (Respira fundo, controla-se.) Eu me afogava em seus "eu te amo", em seus "para sempre". (Toca-o, suave.) Não quero um dono. Quero um cúmplice.
ELE:
(Prende sua mão, desesperado.)
Sou seu cúmplice! Fujamos ! (Suplica.) Compremos um carro, vamos para o sul… (Sua voz falha.) Ou fique… fique e me mate, mas não me deixe assim, pela metade…
ELA:
(Retira a mão, lenta.)
Você já se matou sozinho. (Fecha a caixa, definitiva.) Quando for embora, não volte. Não por mim… mas porque nada de você resta aqui.
(ELA sai. ELE se ajoelha, recolhe um caco do vaso. Aperta-o até sangrar. A luz se apaga, restando apenas o som de sua respiração entrecortada.)
FIM.
Notas para a atuação:
- ELE: Sua paranoia deve ser física. Tremores, olhares por cima do ombro, movimentos bruscos que revelam desespero.
- ELA: Calma aparente, mas com microexpressões de dor (morder o lábio, cerrar os punhos ao ouvir "ele").
- Símbolos-chave:
- Vaso quebrado: Representa a relação fraturada. Os cacos, recolhidos por ELE no final, mostram sua incapacidade de seguir em frente.
- Caixa de livros: A cultura como desculpa para controlar; ELA os usa como barreira emocional.
- Luz e som:
- Em momentos de confronto, luzes estroboscópicas imitando o piscar de uma mente à beira do colapso.
- No final, o som de um carro se afastando, seguido de silêncio absoluto.
Intencionalidade:
O diálogo explora o amor como posse e autodestruição. ELE confunde obsessão com devoção, enquanto ELA luta para redefinir sua liberdade. A ausência de um "outro" real sublinha que o verdadeiro conflito é interno: ambos são prisioneiros de suas próprias mentes.
Mensagem central:
"Espelhos Fraturados" gira em torno da complexidade das relações humanas, explorando temas como obsessão, identidade fragmentada, liberdade versus posse e a luta entre autenticidade e expectativas sociais.
Amor como prisão e autodestruição
- ELE personifica o amor possessivo, que confunde controle com cuidado. Sua paranoia (evidenciada por recibos e mensagens guardados) mostra como o medo da perda corrompe a razão.
- ELA, em sua frieza, busca autonomia, rejeitando a "proteção" sufocante de ELE.
Identidade fragmentada e crise existencial
- ELE está dividido entre a ânsia por liberdade (influenciada por Júpiter e Vênus em Gêmeos) e sua natureza taurina (Saturno e Marte em Capricórnio), que o prende ao passado.
- ELA já reconciliou suas múltiplas facetas, aceitando sua complexidade.
Solidão e conexão
- A solidão de ELE vem de sua incapacidade de amar sem posse. O vaso quebrado simboliza sua mente fragmentada.
- ELA, mesmo independente, não é indiferente: seu gesto de entregar os recibos revela compaixão, mas também distância.
Crítica a estruturas sociais
- O texto questiona normas como monogamia rígida e papéis de gênero, contrastando com a fluidez sexual de Agustín (do monólogo anterior).
- Referências a Cuba (pobreza, conservadorismo) ecoam nas limitações de ELE em "voar".
Busca por autenticidade
- A frase final de ELA ("Nada de você resta aqui") é uma libertação. O diálogo sugere que conexão verdadeira só existe na autenticidade.
- ELE, ao recolher cacos, ilude-se achando que pode consertar o irremediável.
Mensagem final:
"Espelhos Fraturados" é um grito sobre a necessidade de confrontar nossas sombras, abraçar a complexidade do ser e reconhecer que o amor só floresce sem grilhões. A verdadeira liberdade não é fugir do mundo, mas encarar-se com honestidade, mesmo que custe a solidão. 🎭💔
Cena: "Um Silêncio que Grita"
(Escenario: Um apartamento pequeno, mas aconchegante. Luz suave de abajur. Quadros abstratos nas paredes, uma mala semi-aberta no sofá. ELLA, vestida casual, guarda roupas em uma gaveta. De repente, a porta se abre com violência. Entra ÉL, carregando uma mochila rasgada e uma caixa de papelão. Seu cabelo está desgrenhado, a barba por fazer.)
ÉL:
(Ofegante, ignorando o olhar dela.)
¡No aguanto más! ¡Esto es ridículo! (Abre a caixa, joga roupas no chão.) ¿Sabes qué día es hoy? ¡Nuestro aniversario! ¡Dos meses desde que me echaste!
ELLA:
(Fria, mas controlada. Fecha a gaveta.)
No es nuestro aniversario. Es el día que decidiste respetarme. (Pausa.) Ahora, vete.
ÉL:
(Rindo, histérico.)
¿Respetarte? ¡Te estoy respetando! (Tira um porta-retratos da caixa: uma foto deles juntos, rachada.) ¡Mira! ¡Hasta traje tus fotos! ¡Tus libros! ¡Tu vida! (Começa a desempacotar compulsivamente: um vestido vermelho, um perfume, um disco de jazz.)
ELLA:
(Alta, cortante.)
¡PARA!
(O silêncio é abrupto. ÉL congela, a mão ainda segurando o perfume. ELLA respira fundo, as mãos tremendo levemente.)
ELLA:
(Suave, mas letal.)
Você tem duas opções: sair caminhando… (Pega o celular, o dedo pairando sobre o 112.) …ou sair algemado.
ÉL:
(Desesperado, agarra o vestido vermelho como um escudo.)
¡No puedes hacerme esto! ¡Soy yo! ¡El hombre que te compraba flores aos domingos! (Se aproxima, suplicante.) ¡El que conocía tus medos! ¡Te enseñé a nadar, maldita sea!
ELLA:
(Sem emoção, mas com os olhos brilhando.)
E eu te ensinei a mentir. (Pausa.) Você não quer a mim. Quer a ideia de mim. (Aponta para a porta.) Fora.
ÉL:
(Cai de joelhos, abraçando a caixa.)
¡Te amo! ¡TE AMO! ¿Qué más quieres? ¿Qué me arraste? ¡ME ARRASTO! (Grita para o teto.) ¡SIN TI, NO SOY NADA!
ELLA:
(Liga o celular, o som da discagem enchendo o quarto.)
Última chance.
(ÉL a encara, desolado. Por um segundo, parece que vai atacar. Mas então, algo se quebra em seu rosto. Recolhe as coisas com mãos trêmulas, derrubando o perfume. O líquido se espalha pelo chão, um aroma doce e venenoso.)
ÉL:
(Sussurrando, ao sair.)
Você… você vai se arrepender.
ELLA:
(Fecha a porta atrás dele. Encosta a testa na madeira, os olhos fechados. Um soluço escapa, mas não há lágrimas.)
(Luzes se apagam. O som do perfume pingando no chão continua, como um relógio marcando o fim.)
FIN.
Notas para a encenação:
- Símbolos:
- Perfume derramado: O amor que se tornou tóxico, "doce" na memória, mas venenoso na realidade.
- Foto rachada: A relação partida, mas ainda presente.
- Físico de ÉL: Deve parecer desnutrido, com olheiras profundas. Seus movimentos são erráticos, como um animal enjaulado.
- ELLA: Sua força está na contenção. Quando grita, é um som visceral, não ensaiado. O soluço final deve ser quase imperceptível, mostrando sua humanidade além da armadura.
Mensagem da cena:
"Às vezes, amar alguém é deixá-lo partir — mesmo que a partida seja sua própria alma."
A cena desnuda a diferença entre "amar" e "precisar". Enquanto ÉL confunde dependência com devoção, ELLA escolhe a própria integridade, mesmo que isso custe a ilusão de um "felizes para sempre". O perfume, que persiste após sua saída, lembra que o amor deixa marcas… mas não deve ser uma sentença perpétua.
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