Voltar

 


🌿 Monólogo: “Voltar”

Sabe... há lugares que guardam muito mais do que paredes e memórias. Eles guardam pedaços de mim. E esse lugar, onde vivi tanta coisa boa... mas também muita dor... ainda me chama. Como um eco antigo que insiste em não desaparecer.

Por muito tempo, eu evitei voltar. Talvez por orgulho, talvez por medo de reabrir feridas que, na verdade, nunca cicatrizaram por completo. Ainda guardo mágoas. E sei que, naquele tempo, eu também fui injusta. Imatura. Como todos somos, quando ainda não conhecemos o valor do silêncio, da pausa, da escuta. A vida é um processo — e a ignorância, por vezes, nos arrasta a cometer faltas que só o tempo e a lucidez são capazes de revelar.

Mas hoje... hoje eu volto com outros olhos. Olhos que enxergam não só o que doeu, mas o que ensinou. Olhos que, enfim, conseguem ver através dos véus da mágoa. Eu sei que não será fácil — mas também sei que, agora, sou capaz de olhar tudo de cabeça pra baixo, como o Pendurado, e ver o que antes estava distorcido. Não pra me prender ao que foi, mas pra me libertar do que ainda pesa.

Não vou em busca de reencontros. Vou pra encontrar a mim mesma. Ali, naquele espelho do passado, talvez eu reconheça valores esquecidos... intenções boas que se perderam nas palavras mal ditas... talvez eu reencontre a força da minha essência.

Talvez nada mude por fora. Pode ser que não haja gestos, nem frutos visíveis. Mas algo será semeado dentro de mim. Um novo silêncio. Uma compreensão mais doce. E essa paz, que só chega quando a gente aceita a realidade inteira — o que foi bom, o que faltou, o que nunca veio.

Porque amar, mesmo sabendo de tudo que faltou, é o gesto mais maduro que posso oferecer a mim mesma e ao mundo. Eu não preciso mais provar nada. Só viver. Viver com afeto. Com carinho. E com humildade...

Hoje, volto não como quem retorna ao passado, mas como quem desce do orgulho e sobe pela alma. Um passo suspenso, firme, no invisível chão do perdão.

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